No mês da mulher, mães de pessoas com deficiência evidenciam a diversidade e as histórias, muitas vezes ocultas do universo feminino, a partir do apoio do terceiro setor
Por Ana Clara Godoi, para o site Observatório do Terceiro Setor
A Associação Fernanda Bianchini é uma organização do terceiro setor que atende, de forma gratuita, mais de 400 deficientes visuais e pessoas com outros tipos de deficiência, com foco na presença familiar, geralmente representada pela figura da mãe. Ao longo de 28 anos de atuação, a Associação tem presenciado histórias de mulheres que, devido à condição dos filhos, que requerem atenção e cuidados constantes, tiveram que se reinventar e reescrever suas histórias enfrentando adversidades sociais e financeiras durante essa trajetória.
Uma dessas mulheres é Sandra Lopes de Carvalho. Quando Sandra e seu filho Gabriel, na ocasião com 7 anos, foram atropelados por um veículo, a vida dos dois tomou um novo rumo. Após 5 dias na UTI e 2 meses em coma, a criança sobreviveu, porém, com deficiência intelectual devido às sequelas do acidente.
Desde então, Sandra voltou toda a sua atenção para os cuidados e recuperação do filho, hoje com 16 anos, enfrentando todos os contratempos que incluem a entrega física e emocional, os preconceitos e as dificuldades financeiras.
“Eu me vejo como uma mulher, não uma super-mulher, que tem um filho com deficiência. A cada dia, venho superando e me sentindo capaz de cuidar dele. Deus me deu ele duas vezes, perfeito e com deficiência, e aí percebi que teríamos uma nova chance”. Porém, até chegar a esse entendimento, Sandra teve que administrar suas próprias angústias e as novas perspectivas como mãe de um deficiente.
“Trabalhava há 10 anos em uma empresa, ganhava bem. Um dia você dorme e acorda com outro tipo de vida. Passei muito tempo em psiquiatras e terapias para prosseguir. Hoje, vivo da venda de salgadinhos e do benefício do LOAS obtido pelo Gabriel”, conta. Em relação aos preconceitos, Sandra diz que antes ficava chateada, mas, ultimamente, tem procurado conviver com outras mães de deficientes, onde “uma entende a outra”.
“Existem mães de deficientes que não sabem 10% dos direitos dos seus filhos, tento ajudar, passar contatos. Afinal, quem tem boca vai a Roma. Sempre falo, não desista, corra atrás que você consegue, Deus sempre dá uma nova chance”.
Com a ajuda dos esforços da mãe, hoje Gabriel se destaca nas atividades desenvolvidas na Associação Fernanda Bianchini, onde faz aulas de ballet, hip hop e teatro. Além disso, o garoto faz musicoterapia na FMU, vôlei na ABB, tiro ao arco paraolímpico e equoterapia. “Ele teve um desenvolvimento incrível e, por isso, procuro nunca faltar”, conclui Sandra.
UM BEBÊ COM 400 GRAMAS
Regina também viu sua vida mudar quando Nikolas nasceu, aos 5 meses de gestação e com apenas 400 gramas de peso, com retinoplastia, condição que lhe causou deficiência visual total.
“Na ocasião, queríamos que ele sobrevivesse, independente da condição. Fui buscar conhecimento, cursos e muito estímulo para enfrentar esse momento. Porém, tive que abrir mão do trabalho e deixei um pouco de viver minha vida. Na época, estava estudando e não consegui terminar minha pós-graduação. Hoje, aproveito os momentos em que ele está na escola para fazer um estágio e outras atividades”, conta Regina.
“No começo é um baque, mas a gente vai se adaptando”, afirma Regina quando questionada sobre o que diria para uma mãe nas mesmas condições. “Não desista, o seu filho vai conseguir da forma dele, no momento dele, e temos que estimular ao máximo para ele ir longe”.
Hoje, além de estudar no Instituto Padre Chico, Nikolas pratica uma série de atividades no Instituto Fernanda Bianchini, como ballet, teatro e musicalização. Estimulada pelas necessidades do filho, e com o objetivo de divulgar o Braille, sistema de leitura e escrita para deficientes visuais, Regina criou a loja virtual @ateliedobrailleediversidade, onde comercializa itens com esse tipo de linguagem, e a @brinca_nick, na qual disponibiliza brinquedos adaptados direcionados para mães com deficiência visual poderem interagir com seus filhos.
MATÉRIA ORIGINAL: https://observatorio3setor.org.br/noticias/maes-de-pcds-reescrevem-suas-historias-em-meio-as-adversidades/
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