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Texto de Tuca Munhoz, para o Observatório Deficiência |



No dia 19 de outubro de 1980, saí de São Caetano do Sul, Grande São Paulo, onde morava, em direção ao antigo Hospital Matarazzo (que não existe mais, dando lugar a um dos mais luxuosos hotéis de São Paulo).

Nesse hospital, morava uma das mais notáveis lideranças do movimento de pessoas com deficiência da época, Maria de Lourdes Guarda.

Foi de lá, desse hospital, que saímos todos rumo a Brasília. Se bem me lembro, éramos 16 pessoas, incluindo a própria Maria de Lourdes. Ela precisava de uma maca para se locomover e vários bancos do ônibus tiveram que ser retirados para que ela pudesse se acomodar.

No ônibus, estavam pessoas da Fraternidade Cristã de Pessoas com Deficiência, FCD, à qual ela pertencia, e do Núcleo de Integração do Deficiente, NID, ao qual eu pertencia.

Foram quase 20 horas de viagem para participar do 1° Encontro Nacional de Entidades de Pessoas com Deficiência. Além de nós, estiveram presentes nesse evento outras cinco centenas de pessoas, a maioria com deficiência, de todos os cantos do país.

Foi uma viagem divertida, lembro-me das muitas risadas, dos gritos de alegria e das brincadeiras. Porém, tudo muito precário. Viajamos às próprias custas, sem apoios oficiais ou particulares, e isso foi muito bom. Nossa capacidade de organização foi colocada à prova e vencemos.

Maria de Lourdes foi uma grande liderança, foi uma das grandes responsáveis pelas articulações necessárias para essa viagem, juntamente com a coordenadora do NID, Lia Crespo.

Quando chegamos à Brasília, estava uma noite linda, de lua cheia, enorme, e o ônibus parou em frente ao Palácio do Planalto. Essa imagem nunca saiu da minha memória: era a lua, o Palácio e o céu - uma cena inesquecível!

Teria muito mais a contar sobre essa viagem, essa aventura política, mas contei esse trechinho apenas porque foi um pequeno vídeo que assisti esses dias que me fez recordar tudo isso.

Esse vídeo registrou a alegria de dois queridos amigos, Agna Cruz e Fábio Barcelos, brincando, cada um em sua cadeira de rodas, no estacionamento do Palácio do Planalto, também com um céu lindo de entardecer, os dois rindo e brincando logo após o lançamento do Novo Plano Viver Sem Limite.

Eu me senti junto deles, brincando, feliz, debaixo daquele lindo céu de Brasília. Eu me senti um dos portadores de um magnífico fio que liga aquele encontro de 1980, com o lançamento desse Plano, em 2023.

Todo esse tempo passou, tanto fizemos em nossas vidas, lutas e conquistas. Conquistas que têm de chegar a todas as pessoas com deficiência. Ainda não chegaram.

Mas a nossa alegria naquela já longínqua viagem e a alegria dos queridos amigos no estacionamento do Palácio, é o composto que faz a liga desse fio que nos une no tempo e nos faz, antes de tudo, brasileiros que vivem e querem um Brasil melhor para todos.


Tuca Munhoz

Em São Paulo, 27 de novembro de 2023




*Tuca Munhoz é ativista pelos direitos humanos das pessoas com deficiência, gestor público, político, comunicador e escritor. “Minha história é contar histórias, inventadas, reais, vice e versa e misturadas”, diz Tuca sobre Tuca.

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"Faço parte do Laboratório de Inclusão e Diversidade desde 2020, coordenado pela Professora Doutora, Flávia Barbosa da Silva Dutra e o Professor Doutor, Felipe Di Blasi e foi através dessa participação em pesquisas voltadas para inclusão e permanência de pessoas com deficência (PcD) nas universidades que nasceu a motivação para elaborar este trabalho de conclusão de curso.


Esse estudo foi realizado na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) que é pioneira no atendimento às cotas universitárias para as PcD desde 2004, segundo a lei 5.346/2008 prorrogada pela , de Lei nº 8.121, de setembro de 2018 (BRASIL, 2003, 2008), passando a garantir o ingresso da PcD na universidade estadual por meio de ações afirmativas.


As ações afirmativas garantem o ingresso do estudante com deficiência no ensino superior, mas após o seu ingresso, a universidade deve atender às demandas específicas desses estudantes. Dessa forma, entendemos que as aulas devem ser desenvolvidas de modo que garantam a participação plena de todos os estudantes, independente da condição. Uma das estratégias para que essa inclusão aconteça é a utilização do Desenho Universal para Aprendizagem (DUA), que vem sido utilizado por muitos educadores. Segundo Marchiori (2021, p.34) o DUA tem como objetivo:


[...] elaborar produtos e ambientes que possam ser utilizados por todos, sem necessidade de adaptações, na medida do possível. Ao encontro de um paradigma inclusivo, busca-se a adequação da escola ao estudante ao invés do estudante se adaptar ao ambiente escolar.


Para atender a essas e outras PcD, é necessário romper com algumas barreias existentes na sociedade que são impostas pelo ser humano. Segundo Sassaki (2019) existem 7 dimensões da acessibilidade, que precisam ser priorizadas para fornecer a todos a qualidade e facilidade que deveriam ter para se viver, sendo elas: Arquitetônica; Atitudinal; Comunicacional; Instrumental; Metodológica; Natural e Programática.


Diante do exposto, o objetivo geral da pesquisa foi analisar a experiência relatada por uma estudante com deficiência física acerca da sua inclusão no curso de graduação de Educação Física. Traçamos como objetivos específicos realizar entrevista semiestruturada com uma estudante com deficiência do curso de Educação Física, e identificar possíveis desafios encontrados pela estudante em seu percurso acadêmico no ensino superior.


Realizamos uma entrevista semiestruturada com uma estudante de 22 anos, que possui deficiência física congênita, identificada como agenesia de membro, graduanda do curso de licenciatura em Educação Física da Uerj. A coleta de dados se deu por uma videoconferência através da plataforma Google Meet em maio de 2021, não podendo acontecer presencialmente, devido ao advento da pandemia da Covid-19. Suas respostas foram transcritas e analisadas a partir do método de categorização de dados de Bardin, que nos permitiu criar 3 categorias “barreiras”, “inclusão” e “apoio”. O presente trabalho teve a submissão de protocolo de pesquisa realizada junto ao Sistema Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Pedro Ernesto da Instituição proponente Uerj, sendo aprovado em 07/02/2020, com número CAAE 26291919.4.0000.5259.


Em cada uma das categorias citadas acima, foram elencadas falas da estudante que traziam experiencias vivenciadas dentro da universidade durante seu percurso acadêmico. A estudante relatou ao longo da entrevista alguns desafios encontrados durante o percurso acadêmico. Dentre eles podemos citar, a falta de comunicação, não adaptação dos conteúdos, ausência de assuntos e questões relacionadas a inclusão, aulas não inclusivas, que por diversas vezes não atendiam a sua especificidade, além do desafio mais citado, que está relacionado a barreia atitudinal.


Uma das propostas enfatizadas pela entrevistada para diminuir possíveis desafios, é o diálogo e a informação acerca dos estudantes. Não apenas estudantes com deficiência, mas propostas que incluam a todos, como descrito a seguir pela fala da estudante:


“[...] para a gente conseguir evoluir e dar mais espaço para pessoas com deficiência é isso, é saber o que você está fazendo, pra quem você está fazendo, em saber as limitações aquela pessoa obviamente não exclui aqueles que não tenha deficiência, mas agregar [...]”


Como exposto no presente trabalho, o processo de inclusão evolui a cada dia, mas muito ainda se tem a fazer. É necessário que estudantes, professores, funcionários e gestão institucional, dialoguem sobre inclusão, acessibilidade e permanência, em prol da educação inclusiva também no ensino superior, cumprindo seu papel social e acadêmico de instituição de excelência que trabalha com a diversidade de seu público.


Após análise da entrevista e construção do trabalho, foi possível constatar que mesmo com os avanços relacionados à inclusão das PcD nas universidades ainda há muito o que ser feito em relação às barreiras atitudinais e formação dos professores acerca dos estudantes com deficiência."




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Grupo de cineastas com deficiência iniciaram a cerimônia com discurso denunciando a inacessibilidade do evento


Por Amanda Canellas / Correio Brasiliense


Neste sábado (16/12), o 56º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro se encerra em uma cerimônia com público energizado. Antes da abertura das portas para a sala de cinema do Cine Brasília, um grupo de cineastas com deficiência se manifestou silenciosamente com cartazes que denunciavam a inacessibilidade do festival. Posteriormente, o primeiro discurso da cerimônia foi dos manifestantes, em convite dos apresentadores do festival.




A estudante de cinema Bia Cruz, ao lado dos outros manifestantes, escancarou a dificuldade em acompanhar o festival como pessoa surda. "Sou cineasta, sou uma pessoa com deficiência e tenho muito interesse em acompanhar o festival. Mas esse festival não foi acessível", declarou Bia. "Ficamos de fora, somo profissionais do cinema, temos muito interesse em participar e acompanhar."


O grupo afirma que, das produções exibidas no festival, 49% não tiveram legendas descritivas, 26.7% estavam sem audiodescrição e nenhuma apresentação deles teve o suporte em libras. A cineasta convidou o público para refletir sobre acessibilidade: "Se nós fizéssemos um filme em libras e o inscrevêssemos para o festival sem áudio, quantos de vocês iriam entender?"



Bia encerra o discurso com esperança de novas oportunidades que abracem todos os profissionais do cinema. "Que as próximas edições sejam não só acessíveis mas inclusivas também."

Em seguida, a equipe da organização do Cine Brasília subiu ao palco e a diretora artística do festival, Ana Karinna de Carvalho, observa que a falta de acessibilidade do festival é sintoma da falta de verba. "A questão da acessibilidade é muito importante para nós. Os festivais precisam de orçamento. Mesmo sem ter suficiente, colocamos o que dava para ser", afirmou Ana Karinna.




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